Aniversário de 20 anos de formatura em medicina
Exatamente hoje, há 20 anos, eu me formava médico pela Universidade Regional de Blumenau. Então com 25 anos, eu estava conquistando uma etapa importantíssima da minha vida, uma vez que precisei batalhar muito para ser médico. Existiam na época poucas faculdades de Medicina - em Santa Catarina eram apenas duas; aqui em Blumenau e em Florianópolis. Para que se tenha ideia, eu havia sido o 12º classificado no vestibular, da minha turma de 44 alunos, e o 18º de um universo de 20 mil candidatos da Rede Acafe.
O que mais me emociona em lembrar desse tempo é que meu pai teve câncer, e infelizmente não buscou ajuda médica em tempo. Quando eu estava me formando em medicina, ele estava em coma já, em estado terminal. Inconsciente.
E aquilo que seria uma grande vitória pra mim e com certeza para ele, pois ele não tinha faculdade, acabou por ter um sabor triste, que me leva às lágrimas até hoje. Eu tinha uma conexão extremamente forte com meu pai, uma pessoa maravilhosa, intensa, que trazia consigo também muitas questões, como por exemplo a depressão e o transtorno do pânico. Eu acompanhei sua jornada e seu sofrimento, e vê-lo passar pelas questões que passava me tocava profundamente.
Eu já tinha certeza de ser psiquiatra desde o início da faculdade, uma vez que eu gostava de filosofia e queria trazer um sentido maior à minha vida. Eu julgava serem essas as grandes motivações de minha escolha. Porém hoje, depois de adulto e me autoanalisar, eu percebo que muito do que eu sempre tive vontade de fazer, de trabalhar, era tratar o meu pai, trazer alívio e conforto para ele.
Então quando eu digo para os pacientes que eu os trato como um membro da minha família, eu estou falando isso de coração. É a mais pura verdade, pois o que eu não pude fazer pela minha família, pelo meu pai, eu tento fazer pelo pai ou filho dos outros. É um empenho, é algo que eu sinto visceralmente fazendo sentido da minha vida.
Tenho muito a agradecer a meus professores, que colocaram fé e esperança na gente, um bando de adolescente na época. E aos meus pacientes que confiam a sua saúde, e às vezes até a sua vida, a mim.
O tempo passa pela gente, mas a gente não passa pelo tempo.
Algumas coisas são viscerais e estão sempre vivas dentro de nós.
Depoimentos:
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