Transtornos mentais na adolescência
A adolescência é um período de intensas atividades e transformações na vida mental do indivíduo, o que, por si só, leva a diversas manifestações de comportamento que podem ser interpretadas por leigos como sendo doença.
Adolescência normal
A adolescência é a fase da vida em que a pessoa se descobre como indivíduo separado dos pais. Isso gera um sentimento de curiosidade e euforia, porém também gera sentimentos de medo e inadequação. Um adolescente está descobrindo o que é ser adulto, mas não está plenamente pronto para exercer as atividades e assumir as responsabilidades de ser adulto. Assim sendo, ele procura exemplos de pessoas próximas ou não - ídolos artísticos ou esportivos, entre outros - para construir seu caráter e seu comportamento.
Também é visível a necessidade do adolescente de contrariar a vontade ou as ideias dos pais. Esse comportamento opositor aos pais acontece em decorrência da necessidade do adolescente de separar-se dos pais, ser diferente deles, para construir sua própria identidade como pessoa. Ao mesmo tempo, o adolescente pode não se ver capaz ainda de se separar desses pais, gerando um sentimento de medo. De um lado a necessidade de separar-se dos pais para ser um indivíduo diferente e de outro lado a dificuldade de assumir a posição adulta (com suas responsabilidades e desejos) o levam a uma fase de intensa confusão de sentimentos, com uma constante mudança de opiniões e metas e com um comportamento bastante impulsivo.
Embora haja, atualmente, grande quantidade de conhecimento sobre esse assunto, é necessário alertar que muitos dos comportamentos atípicos manifestados pelos adolescentes podem apenas ser uma busca por sua identidade, e não uma doença mental específica.
Cabe também lembrar que, muitas vezes, os adolescentes necessitam de ajuda profissional nesse processo de "ser adulto", o qual, mesmo não se constituindo em doença mental, pode constituir-se em sofrimento para o adolescente, podendo ele beneficiar-se, e muito, de intervenções psicológicas.
Dentre os transtornos mais comuns vistos na adolescência, destacam-se os seguintes:
Transtornos do Humor
É o grupo onde se incluem as doenças depressivas, de certo modo comuns na adolescência, acompanhadas das mais diversas manifestações. Podem apresentar humor deprimido acentuado (tristeza profunda) ou irritabilidade (que por si só pode ser manifestação normal da adolescência), perda de interesse ou prazer em suas atividades, perda ou ganho de peso, insônia ou excesso de sono e abuso de substâncias psicoativas (mais comumente álcool e até outras drogas). O tratamento desses transtornos envolve o uso de fármacos (antidepressivos), associados à psicoterapia.
Transtornos Alimentares
Inclui-se aqui a Bulimia (ataques de "comer" compulsivo, muitas vezes seguidos do ato de vomitar) e Anorexia (diminuição intensa da ingestão de alimentos). A pessoa demonstra um "pavor" de engordar, tomando atitudes exageradas ou não necessárias para emagrecer, mantendo peso muito abaixo do esperado para ela. O tratamento desses transtornos envolve uma equipe multidisciplinar (psiquiatra, nutricionista...), fármacos antidepressivos e psicoterapia, necessitando em alguns casos de intervenções familiares.
Transtornos do Uso de Substâncias Psicoativas
O uso de drogas, como é conhecido, é um tipo de alteração de comportamento bastante visto na adolescência. A dependência de drogas, que é o transtorno mais grave desse grupo, manifesta-se pelo uso da substância associado a uma necessidade intensa de tê-la, ausência de prazer nas atividades sem a droga e busca incessante por ela, muitas vezes se envolvendo em situações ilegais ou de risco para conseguir a substância (roubo e tráfico). O tratamento envolve psicoterapia, educação familiar e alguns fármacos, por vezes necessitando internação hospitalar.
Transtornos de Conduta
Caracterizam-se por comportamentos repetitivos de contrariedade a normas e padrões sociais, conduta agressiva e desafiadora. Constitui-se em atitudes graves, sendo mais do que rebeldia adolescente e travessuras infantis normais. Essas pessoas envolvem-se em situações de ilegalidade e violações do direito de outras pessoas. Aparecem roubos, destruição de patrimônio alheio, brigas, crueldade e desobediência intensa como algumas das manifestações. O tratamento envolve, basicamente, psicoterapia, podendo-se utilizar alguns fármacos no controle da impulsividade desses pacientes. São transtornos de difícil manejo, e muitas vezes necessitam de intervenções familiares e sociais.
Transtornos de Ansiedade
Manifesta-se em pessoas que vivem com um grau muito intenso de ansiedade, chegando a ter prejuízos na sua vida, como, por exemplo, em meio social. Pode aparecer na adolescência sob a forma de ansiedade de separação, geralmente dos pais, aparecendo em adolescentes que não conseguem manter atividades sem a presença dos mesmos. São extremamente tímidos, e muitas vezes, não conseguem obter prazer em quase nenhuma atividade fora de casa. O tratamento envolve basicamente psicoterapia, podendo-se recorrer a alguns fármacos como coadjuvantes.
Transtornos Psicóticos
Nessa fase da vida muitos transtornos psicóticos, por exemplo a esquizofrenia, iniciam suas manifestações. Esses transtornos são graves, muitas vezes necessitam internação hospitalar e são caracterizados por comportamentos e pensamentos muito bizarros e distorcidos frente a realidade. O tratamento baseia-se em psicoterapia de apoio e fármacos antipsicóticos. São transtornos, em sua maioria, cronificantes, principalmente se não tratados.
Suicídio na Adolescência
Muitos transtornos da adolescência podem se manifestar com comportamento suicida. Tentativas ou ameaças de suicídio podem aparecer. Alguns comportamentos de exposição e risco (dirigir em alta velocidade ou embriagado, envolvimento em brigas ou em atividades de risco, entre outras) também podem ser sinais de comportamento suicida na adolescência, mesmo sem a manifestação explícita dessa intenção.
Cuidados a tomar na Avaliação Diagnóstica
São muitas as possibilidades de transtornos mentais nessa fase da vida, mas todas as situações devem ser muito bem avaliadas antes de se fechar um diagnóstico. Além das dificuldades pessoais dos adolescentes e de sua intensa modificação corporal e mental, o que por si só já pode gerar comportamentos e sentimentos de inadequação, suas atitudes podem ainda refletir problemáticas familiares. Assim sendo, sem uma devida avaliação do adolescente é, no mínimo imprudente, caracterizá-lo como tendo uma doença mental específica.
Depoimentos:
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